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Manter o paciente como foco do cuidado é o principal desafio do farmacêutico hospitalar

Publicado em 19 de janeiro de 2023

Dr. Leonardo Kister

CRF-BA 4134

  • Presidente da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (Sbrafh)
  • Farmacêutico Hospitalar do Complexo Hospitalar Professor Edgar Santos da Universidade Federal da Bahia

União Química: O Dia do Farmacêutico, 20 de janeiro, foi instituído para celebrar e conscientizar a sociedade sobre a importância do farmacêutico como profissional da saúde. Quais são as principais conquistas a comemorar nessa data?

Dr. Leonardo: Diversos são os avanços e as conquistas que a profissão farmacêutica reuniu ao longo do tempo, e todos esses ganhos devem ser comemorados. Se hoje a profissão farmacêutica ganha mais espaço e responsabilidade na sociedade, muito se deve ao que foi sendo construído ao longo dos anos e à dedicação diária de inúmeros profissionais que se doaram para colocar a profissão em seu alto patamar. Em um artigo de 1986, o teórico da área de Farmácia, Donald Brodie, já nos inspirava em nossa principal conquista e avanço do período, nos questionando sobre qual era o papel dos serviços farmacêuticos, fazendo uma excelente correlação com as demandas sociais dos pacientes, levando-nos a entender que todas as profissões nascem e se sustentam amparando-se nas necessidades humanas; logo, a aceitação da responsabilidade pelo uso apropriado de medicamentos nos pacientes e seus diversos desdobramentos deve ser o mote fundamental da profissão. Aproveito para lembrar uma citação do Dr. Charles Hepler, da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, em um artigo chamado o “Sonho adiado” (2010): “O que quer que façamos como farmacêuticos para ir em direção ao nosso sonho universal de prática clínica, temos que focar em reduzir a carga da doença, da lesão e da deficiência e melhorar o estado de saúde das pessoas”.

União Química: Qual é a relevância da farmácia hospitalar no contexto administrativo e assistencial de um hospital e qual é o papel do farmacêutico na assistência?

Dr. Leonardo: De acordo com os Padrões Mínimos da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (Sbrafh), a “Farmácia Hospitalar é uma unidade clínica, administrativa e econômica, adaptada e integrada funcionalmente com as demais unidades administrativas e de assistência ao paciente”, logo, sua relevância reside na transversalidade de ações e de processos em diversos eixos do cuidado ao paciente. Nesse contexto, o farmacêutico exerce ações de caráter clínico e administrativo que devem estar centradas no cuidado ao paciente e no atendimento de suas necessidades. No processo assistencial, os medicamentos ocupam papel de extrema relevância. No entanto, não podem se configurar como objeto e objetivos finais, mas devem ser assimilados como instrumentos, “atividades-meio”, devendo o farmacêutico hospitalar assumir seu protagonismo em todas as fases da assistência integral ao paciente, focando em suas necessidades, sejam elas medicamentosas ou não. O farmacêutico, no âmbito hospitalar, desenvolve atividades e funções clínicas, administrativas e consultivas, e todas essas ações precisam estar embasadas em seu propósito principal que é cuidar das pessoas. Mesmo para as tarefas mais administrativas, estas devem ser idealizadas e conduzidas na perspectiva de “para quem” estamos realizando, o que, certamente, trará mais sentido e valor nas práticas desenvolvidas. Desse modo, a assistência farmacêutica deve ser conduzida interna e externamente às farmácias de maneira interligada e intrinsecamente imbricada às demais ações institucionais. 

União Química: Diante da importância do farmacêutico hospitalar, como integrar suas atividades às unidades assistenciais, para atuar com equipes multidisciplinares no cuidado ao paciente?

Dr. Leonardo: A integração dos serviços farmacêuticos com as unidades assistenciais e a atuação em equipe multiprofissional são fundamentais para o sucesso da assistência integral ao paciente. A atuação no cuidado ao paciente deve ser tratada pelo profissional farmacêutico como algo inerente e indissociável de sua prática. Atender às necessidades dos pacientes e se responsabilizar por isso deve ser o princípio filosófico básico de atuação do farmacêutico fundamentado em sua essência profissional. Se o farmacêutico incorpora esse modo de exercer sua prática e entende sua responsabilidade e seu papel, a integração com as equipes multiprofissionais vai acontecer da maneira mais natural possível, pois ele saberá se reconhecer como parte do time, dentro de suas especificidades. Quando falo isso, não quero gerar uma visão separatista entre os diversos modos de atuação do farmacêutico hospitalar, pois acredito fortemente que seja exercendo funções administrativas e gerenciais ou atividades clínicas beira-leito o princípio filosófico de atuação deve sempre ser o mesmo.

União Química: A farmácia hospitalar passa por constantes processos de modernização e adaptações a novas tecnologias. Quais são as principais tendências para os próximos anos, para as quais os farmacêuticos devem estar atentos?

Dr. Leonardo: Vários foram os avanços que a farmácia hospitalar alcançou ao longo do tempo, dos quais podemos destacar a informatização e a automação de diversos processos com ganhos para a qualidade do cuidado e da segurança do paciente, incluindo ações de inteligência artificial e uso de big data que auxiliam na prevenção e na redução de danos no processo assistencial. Nesse ínterim, não podemos deixar de citar que a telessaúde, impulsionada pela obrigação do distanciamento com a pandemia de COVID-19, foi um ganho para diversos pacientes que tiveram seus acessos aos serviços de saúde facilitados, melhorando, por exemplo, a adesão aos tratamentos. Ainda nesse contexto, vale abordar que agora mais do que nunca os farmacêuticos precisam estar atentos e preparados, pois podem ser desafiados a lidar com situações de crise sanitária, desabastecimento de medicamentos, catástrofes ou guerras, entre outras situações de contingenciamento. Outra tendência reside na evolução técnica, na produção flexível e na singularidade dos produtos da chamada medicina de precisão, como a terapia gênica, os medicamentos órgãos-alvo e imunobiológicos que visam a trazer mais segurança e especificidade nos tratamentos, e deverão impor aos profissionais conhecimentos cada vez mais específicos. Atrelado a isso, desenvolvedores de produtos farmacêuticos e demais tecnologias buscam trazer a autonomia do paciente no seu processo de cuidado por meio da “terapia digital”, tirando-o de um papel de “passividade”, o que também obrigará os profissionais a se adaptarem no modo de atuar.   

União Química: Quais são os principais eventos que a Sbrafh está preparando para 2023?

Dr. Leonardo: O principal evento da Sbrafh para 2023 é o XIV Congresso Brasileiro de Farmácia Hospitalar, que ocorrerá entre os dias 1 a 3 de junho de 2023, em Gramado, Rio Grande do Sul. Neste ano, nosso tema central será “Ecossistemas de inovação nos processos de cuidado, valor em saúde & ações sustentáveis”. Para mais informações, visite a página do congresso, disponível em: https://congressofarmaciahospitalar.com/.

Junto ao Congresso Sbrafh, a Sociedade dará seguimento a seus simpósios regionais, que ocorrem ao longo do ano nas cinco regiões do país, assim como nos eventos estaduais garantidos pela capilaridade das diretorias regionais nos Estados Brasileiros, trazendo e tratando a particularidade e a necessidade de cada local. 

A Sbrafh ainda conta com uma área de cursos EAD em sua página e manterá suas ações nesse sentido, assim como Iives e outros eventos online.

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